segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Gênero: Resenha Crítica

Esta resenha apresenta pontos da pesquisa sobre a realidade manicomial no Brasil, baseada no Movimento de Luta Nacional Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica. Para a obtenção dos dados sobre este assunto, o grupo recorreu a diversos meios de pesquisa e todos os dados coletados foram publicados neste blog. O foco dado à pesquisa diz respeito à imagem que a sociedade tem a respeito dos sofredores mentais e o descaso a eles em relação aos maus tratos, desprezo e abandono vivenciado nas instituições psiquiátricas, mais precisamente nos manicômios, que ao longo da história têm se mostrado ineficazes. Se colocarmos em xeque o objetivo dessas instituições – ajudar o paciente a se reintegrar à família e sociedade – comprovaremos que não tem sido esta a realidade.

Para produzir a resenha crítica, usaremos os artigos da Revista Nursing (2005), a entrevista com Austregésilo Carrano Bueno, o documentário “A Casa dos Mortos” e as três entrevistas feitas com pessoas distintas, sem conhecimento específico sobre a situação. Todas estas informações estão publicadas no blog na íntegra, com suas respectivas fontes.

Ao se tratar de uma pessoa com transtorno mental, logo vêm à mente imagens de pessoas desequilibradas, mais precisamente, loucas. Muitos até têm medo só em pensar em um, porque logo pensa em pessoas agressivas. Mas pior ainda que a imagem do sofredor mental, é a imagem dos manicômios. Instituições como esta já foram muito retratadas em filmes, especialmente no gênero terror. E estes locais são mostrados como sujos, repugnantes, com pouca iluminação e com profissionais que parecem ser mais doentes que os próprios pacientes internados. Por esta razão, quando se pergunta a alguém se tem curiosidade de conhecer um manicômio, normalmente ele reluta pelo pavor, mesmo aqueles que dizem que gostariam. Mas infelizmente a realidade mostrada no cinema se encaixa com a realidade do que é um manicômio.

Austregésilo Carrano Bueno, em seu livro “O Canto dos Malditos”, explicita muito da realidade desconhecida sobre os manicômios. Ele mesmo viveu três anos e meio internado, passando por quatro hospitais psiquiátricos. Ele mais do que ninguém tem autoridade para tratar sobre o assunto e em sua entrevista à Radioagência NP, relata dados assustadores. Ao ser perguntado sobre a falta de necessidade real em que muitos são internados nos manicômios, ele disse ser uma verdade, afirmando que muitos são internados simplesmente por um roubo, uma depressão pós-parto, problemas que com a ajuda de um psicólogo já resolveria. E mencionou um dado alarmante de uma avaliação feita pelo Ministério da Saúde em dois manicômios cariocas em que chegaram à conclusão de que 94% dos internados poderiam ser tratados fora destas instituições.

Isso remete também ao trabalho desenvolvido pelos estudantes de enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, que fizeram um projeto de tratamento alternativo com os chamados sofredores mentais. Analisando também a realidade manicomial e pela experiência vivida em um hospital psiquiátrico, chegaram à conclusão que os tratamentos, que em sua maioria é de clausura, tem tornado o doente ainda mais doente e incapaz de retornar ao convívio familiar e na sociedade. Pelo fato dos pacientes praticamente perderem o convívio com o mundo externo, eles ficam ainda mais transtornados, muito piores do que quando entraram no manicômio.

Este projeto, assim como tantos outros, respalda o Movimento de Luta Nacional Antimanicomial que completa 22 anos em 2009. Por mais que estejamos em uma situação alarmante, felizmente existem profissionais da área da saúde – enfermeiros, psicólogos, psiquiatras e outros – que têm se mobilizado para mudar esta realidade camuflada pelo Ministério da Saúde e mais ainda, pelos psiquiatras donos de manicômios. Um grande passo alcançado por este movimento foi a Lei de Reforma Psiquiátrica, que completou oito anos. Através deste, além de projetos de mudança do tratamento com o sofredor mental, tem exposto a realidade para que a sociedade se una nesta causa tão desconhecida ainda.

Um destes meios para a proliferação desta realidade é o documentário lançado em 2009, durante o festival É Tudo Verdade, em Brasília, chamado “A Casa dos Mortos”. Ele revela sem pudores a realidade dos manicômios jurídicos brasileiros. Por mais que seja em um ponto específico, a questão jurídica, este documentário só endossa a ineficácia destas instituições. Para se ter uma idéia, mais de 4.500 pessoas estão abrigadas nestes manicômios no Brasil. Estes detentos, chamados até mesmo de defuntos sociais, perdem totalmente o vínculo com o externo, são maltratados e submetidos a condições e tratamentos desumanos. Para eles, bem como todos os outros internados em diversas instituições psiquiátricas brasileiras, devido à falta de tratamento adequado, de terapias, atividades de cunho social e trabalho de incentivo à reaproximação familiar, como afirmou Austregésilo, eles têm zero por cento de chance de se recuperarem.

Com todas essas informações, só poderíamos chegar à conclusão que precisamos ser voz daqueles que devem estar agora, sedados, amarrados em suas macas, sem esperança de nada mais. Que já foram submetidos a tantos traumas depois de serem internados que são como “defuntos sociais”. É preciso que o povo brasileiro se sensibilize à causa dos “loucos”, que em muitos casos não o são, e manifeste-se contra os abusos dos maiorais psiquiatras do nosso país. O Movimento de Luta Nacional Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica precisam ser apoiados, precisam ser difundidos aos meios de comunicação para que esse descaso acabe. Por mais que até uma lei tenha sido aprovada em favor do movimento, mais de 90% da verba destinada à saúde mental ainda é destinada aos donos de hospitais psiquiátricos. Sobra muito pouco para mudar a realidade vergonhosa em que nos encontramos como povo brasileiro.

O “louco” tem direitos como nós, às vezes poderão ser tão normais como nós, desde que voltemos os nossos olhos para eles e estendamos a mão para tirá-los destas cavernas que os impedem de serem o que são: SERES HUMANOS.

Um comentário: