Este artigo trata-se de relato de experiência com clientes de instituição psiquiátrica e com famílias de clientes egressos desta mesma instituição. Estudo desenvolvido no período de 09 de abril a 12 de junho de 2003 e contemplou a Prática Assistencial do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, referente à disciplina de Enfermagem Assistencial Aplicada. O trabalho tem como objetivo promover a qualidade de vida do sofredor mental, facilitando a interação familiar através de visitas domiciliares, colaborando com as não reinternações hospitalares, utilizando como referencial a relação pessoa-pessoa. Acreditamos que a participação da família no processo de reabilitação do sofredor mental seja de extrema importância a fim de que sejam evitadas as reinternações hospitalares, uma vez que a família é, também, um agente do cuidado.
Os altos índices de reinternações hospitalares podem estar associadas à ineficácia da assistência prestada ao sofredor mental desde a atenção básica de saúde, que faz parte de uma rede de atenção a saúde mental. A nossa proposta está baseada em preceitos da reforma psiquiátrica que preconiza uma mudança de olhares, concepções e atitudes frente a pessoa que vivencia esta situação.
O movimento da Reforma Psiquiátrica vem ao encontro das necessidades em que se encontram os serviços de atenção ao sofredor mental. Vemos esse movimento como grande transformador das condições atuais e acreditamos que socialização do paciente psiquiátrico, assim como sua reiteração com a família contribuirá diretamente para a extinção dos manicômios.
O paradigma psiquiátrico clássico transforma a loucura em doença, reproduz uma demanda social por tratamento e assistência distanciando o louco do espaço social e transformando a loucura em objeto do qual o sujeito precisa distanciar-se para produzir saber e discurso.
Sabemos também que a reforma implica em modificar formas de pensar e compreender o portador de doença mental; concordamos quando colocam que a reforma transforma saberes e práticas em relação à loucura, percebe a complexidade do objeto, re-compreende o sofrimento psíquico.
O termo reforma designa um conjunto de medidas administrativas, organizacionais e assistenciais com o propósito de introduzir mudanças no aparato institucional prestador de assistência ao indivíduo acometido por transtorno mental.
Nas últimas décadas muitos profissionais de saúde vêm discutindo e problematizando assistência psiquiátrica pública no Brasil. Hoje o panorama geral, apesar de estarmos ainda longe do ideal, já se delineia de forma que o modelo psiquiátrico tradicional, centrado na figura do médico, não detém como antes a hegemonia absoluta. Várias experiências espalhadas pelo Brasil, já mostraram que os sofredores mentais podem prescindir do manicômio – visto como um local de tratamento, clausura e restrito a medicalização.
A violação dos direitos humanos fundamentais continua a ser testemunhada em diversos Hospitais Psiquiátricos, apesar disto a fiscalização é bastante intermitente e muito restrita.
Temos a convicção de que o ambiente familiar, de modo geral, e a utilização de estruturas externas totalmente substitutivas à internação manicomial, possibilitam integrar o indivíduo acometido por transtorno mental à sociedade.
A família é o suporte indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos membros que a constituem. É neste ambiente que seus membros recebem os apoios afetivos, psicológicos e, sobretudo, o material necessário a seu crescimento e desenvolvimento. No ambiente familiar são transmitidos os valores éticos e humanitários, onde se formam os hábitos, crenças e comportamentos.
A participação da família no processo de reabilitação do sofredor mental é de extrema importância para evitar a reinternação hospitalar, já que ela é também um agente de cuidado. Associado a inserção familiar e social, podemos promover os resgate de valores, a participação em atividades sociais, reforçar suas habilidades e fornecer orientações referentes a sua doença.
O nosso interesse em trabalhar com a assistência ao sofredor mental surgiu após estágio extracurricular e atividades teórico-práticas da disciplina Enfermagem Psiquiátrica II realizadas em um macro hospital psiquiátrico, em que nos sensibilizamos com a forma de assistência ali oferecida.
Esta sensibilização deu-se a partir dos nossos conhecimentos teóricos adquiridos durante a disciplina, enfocando como referencial a relação pessoa a pessoa, que tem como uma das premissas básicas de que a relação só é estabelecida quando ambos se percebem como um ser humano único.
Observamos que o modelo assistencial prestado na instituição não está em sua totalidade de acordo com este referencial. Da mesma forma percebemos que a assistência, mesmo desenvolvendo atividades terapêuticas diversas, prevalece o tratamento medicamentoso.
A partir dessa vivencia desencadeando um novo olhar quanto a assistência psiquiátrica, nosso trabalho propôs a inserção do sofredor mental no contexto familiar, onde consideramos o ambiente em que vive, como o local pertinente para a sua reabilitação psicossocial.
A partir de uma visão mais humanizada, resolvemos utilizar a proposta interacionista , pois expõe a importância de se comprometer emocionalmente com o ser humano para que possa ser estabelecida a relação pessoa-pessoa. Sabemos que para alcançarmos o bom êxito é necessário, em primeiro plano, compreender o sofredor mental como um todo, respeitando sua individualidade.
Pretendemos proporcionar ao indivíduo/família uma maneira diferenciada de conviver, pois sabemos que há um estigma negativo referente ao sofredor mental, caracterizados como “loucos” em que muitas vezes, se encontram isolados da sociedade.
A experiência adquirida com este trabalho nos proporcionou ampliar os conhecimentos sobre o indivíduo/família, que possui alguma forma de transtorno mental.
Percebemos que ninguém é inteiramente sadio ou inteiramente doente, quando se abordam termos psíquicos. Podemos imaginar que, se classificássemos todas as pessoas de acordo com o seu grau de saúde mental, teríamos das mais sadias às mais doentes, passando por todos os níveis intermediários, e não seria possível definir o limite exato no qual termina a saúde e começa o transtorno mental.
O grau de saúde mental das pessoas não é sempre o mesmo; ele varia de acordo com os momentos, com as situações pelas quais elas passam. Por exemplo, um indivíduo habitualmente independente e cooperador pode deixar de sê-lo as vésperas de um acontecimento importante ou quando sofre a perda de um ente querido.
Através da Teoria utilizada conseguimos compreender a importância de se respeitar a individualidade de cada pessoa. É de extremo significado utilizarmos a relação pessoa-pessoa ao lidarmos com indivíduos acometidos por transtorno mental.
Ao refletirmos sobre essa trajetória percebemos que rodo o ser humano deseja ser amado, obter atenção, ser bem sucedido e viver em segurança, porém, constantemente, se depara com situações que o impedem de realizar-se como pessoa.
Acreditamos que o grau do sofrimento mental do individuo pode estar relacionado às experiências vividas no contexto familiar, principalmente no que se refere aos sucessos ou decepções de suas projeções.
O enfermeiro, profissional de saúde mental, deve identificar de forma favorável uma situação de sofrimento individual e familiar de modo a promover bem estar psíquico, espiritual, social e emocional, evitando assim o aumento do número de reinternações.
Desejamos com estas reflexões contribuir de forma favorável para despertar de um novo olhar relacionado à assistência ao portador de sofrimento mental. Estamos cientes das dificuldades que existem em modificar o estigma da loucura estabelecido pela sociedade, mas este fato não nos impede de acreditarmos que em um futuro próximo, o sofredor mental poderá transcender os “muros” que há muito tempo o isolam da sociedade.
Olá,
ResponderExcluirEstou passando por aqui para visitar o material de vocês. Esta é a etapa final da atividade com o blog sob minha orientação.
De vez em quando virei visitá-los rsss...
Sucesso para vocês!!!
abraços